10/10/2016

HPV: tudo o que você precisa saber

Ginecologia Guarulhos

O aparelho genital interno da mulher é formado por útero, tubas (ou trompas) uterinas e ovários. O útero é ainda dividido em: fundo, corpo, istmo e colo.

O câncer de colo de útero tem cerca de 18 mil vítimas por ano no Brasil, sendo o segundo câncer mais prevalente em mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama.

Os principais fatores de risco para câncer de colo são: baixa escolaridade e início precoce da vida sexual.

Em 1976, o professor alemão Harald zur Hausen descobriu a ligação entre o câncer de colo e a infecção pelo vírus do HPV, e com isso ganhou o premio Nobel de Medicina em 2008.

Os HPV (papiloma vírus humano), são vírus capazes de infectar a pele ou as mucosas. Existem mais de 100 tipos diferentes de HPV, sendo que cerca de 40 tipos podem infectar o trato ano-genital.

Os vários subtipos de HPV somados causam quase todos os casos de câncer de colo de útero, 60% dos casos de boca e garganta; 91% dos casos de câncer anal e 63% dos casos de câncer de pênis.

O comportamento do HPV se assemelha ao do vírus do herpes. Ele fica latente e se manifesta em períodos de queda da imunidade, com verrugas ou lesões no colo do útero. Como é muito prevalente, é difícil saber com precisão de quem a pessoa contraiu o vírus.

Admite-se que quase todas as pessoas já tiveram algum contato. O intervalo médio entre o início da vida sexual e a contaminação é 3 meses.

Há duas formas de se fazer o diagnóstico. Pela pesquisa direta do vírus do HPV no colo, ou pelo teste de Papanicolaou, descrito pelo professor de medicina Georgios Papanicolaou, em 1927. Este exame reduziu a incidência e a mortalidade de câncer de colo, porque ele procura lesões antes que se tornem câncer, as chamadas “neoplasias intracervicais” ou NIC, que são bem mais fáceis de tratar que o câncer estabelecido.

Se a mulher tem um Papanicolaou alterado ou um teste de HPV positivo, podemos afirmar que:

- Ela teve contato com o HPV em algum momento de sua vida
- Não é possível afirmar com precisão que momento foi este e quem foi a pessoa responsável pela transmissão
- O vírus está em atividade
- Deve-se realizar a colposcopia com bióspia

Se a mulher não se submeter ao tratamento, esta lesão pode evoluir para câncer no intervalo de até 10 anos.

Vírus como HPV, hepatite B, hepatite C e Epstein Barr causam 10% dos casos de câncer no mundo. Atualmente existem vacinas para HPV e hepatite B. Países que introduziram a vacina para hepatite B tiveram redução em 90% de cirrose e câncer de fígado. Espera-se obter o mesmo impacto com a vacina do HPV.

A vacina do HPV é uma vacina de partículas do vírus. Há dois tipos de vacina sendo comercializadas no Brasil: bivalente (contra os subtipos 16 e 18) e quadrivalente (contra os subtipos 6, 11, 16 e 18).

Estudos controlados que compararam a eficácia da vacina mostram:
- redução de NIC em 44 a 53% no geral
- redução de NIC em 93 a 97% quando aplicada antes do início da vida sexual

As vacinas são consideradas seguras. Nos Estados Unidos, efeitos colaterais foram reportados em 3 a cada 10 mil mulheres. Os efeitos mais comuns foram: cefaleia, náuseas, vômitos, fraqueza, desmaio.

A polêmica em relação a fertilidade surgiu quando duas irmãs processaram a vacina quadrivalente, alegando que após a vacina elas desenvolveram menopausa precoce. Não se encontra em nenhuma revista científica qualquer relação da vacina com infertilidade, apenas matérias em tabloides. Vale lembrar que a medicina é muito judicializada nos Estados Unidos, é muito frequente encontrar agencias especializadas em processos de saúde. O caso não foi julgado.

A Sociedade Americana de Câncer (ACS) recomenda a vacinação em meninas de 9 a 18 anos, preferencialmente entre 11 e 12 anos. A vacina tem alguma eficácia entre os 18 e 26 anos, mas segundo a ACS não há evidências fortes para recomendar vacinação nesta idade, podendo-se considerar em casos de alto risco, como pessoas com problemas de imunidade.

A ACS recomenda o teste de Papanicolaou para todas as mulheres sexualmente ativas a partir dos 21 anos, independente do status vacinal. Não há recomendação para manter o exame após os 65 anos ou se a mulher fez histerectomia total.

Em resumo, o câncer de colo de útero é causado pelo HPV, vírus altamente circulante entre as pessoas sexualmente ativas. A vacina do HPV é nova e espera-se obter forte impacto nos próximos anos, com redução da incidência e da mortalidade por câncer de colo. O Papanicolaou e o teste de HPV são instrumentos adequados para detectar atividade do vírus, sendo que nos casos positivos se recomenda a colposcopia com biópsia.





Por Jordana Bessa, CRMSP 144.252, médica graduada e especialista em Ginecologia e Mastologia pela Universidade de São Paulo.

  
Referencias
Bailey HH, Chuang LT, duPont NC, Eng C, Foxhall LE, Merrill JK, Wollins DS, Blanke CD. American Society of Clinical Oncology Statement: Human Papillomavirus Vaccination for Cancer Prevention. J Clin Oncol. 2016 May 20;34(15):1803-12.

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