19/04/2017

Reposição hormonal e risco de câncer: fatos e mitos



Reposição hormonal e risco de câncer

O uso de hormônios femininos é corriqueiro no dia a dia do ginecologista. A terapia de reposição hormonal é bastante usada para aliviar os sintomas do climatério, como ondas de calor e secura vaginal.

Alguns tipos de câncer de mama, de ovário e de útero são dependentes de hormônio feminino. Toda mulher em idade reprodutiva, da primeira menstruação até a menopausa, produz estes hormônios pelos ovários e pelas glândulas suprarrenais. Depois da menopausa, continuam sendo produzidos em pequena quantidade. Os hormônios contidos nas pílulas anticoncepcionais e na reposição hormonal são de baixa dosagem e não chegam a inibir a produção endógena da própria mulher.

Ainda assim, é prudente avaliar por meio de pesquisas científicas se estes hormônios podem aumentar a chance de câncer.

O famoso estudo WHI (Women’s Health Initiative) seguiu mais de 16 mil mulheres na pós-menopausa, entre 50 e 79 anos. Elas foram sorteadas para receber reposição hormonal combinada (estrogênio + progesterona) ou placebo (farinha).

A incidência de câncer de mama foi um pouco maior no grupo da reposição, mas ainda assim muito discreto. Após seguimento de 11 anos, houve aumento dos casos do câncer de mama entre quem usou a reposição hormonal (0,38% vs 0,30%). No entanto, esse aumento reflete apenas 42 casos em 16 mil mulheres. O risco individual atribuível ao hormônio é muito pequeno.

O estudo revelou ainda algumas outras surpresas negativas como pequeno aumento de casos de trombose venosa profunda (0,26 vs 0,13%) e embolia pulmonar (0,16% vs 0,08%); e surpresas positivas como a diminuição de fraturas ósseas por osteoporose (1,47 vs 1,91%).

A reposição hormonal apenas com estrogênio é usada em mulheres que não tem útero, e não apresenta nenhum risco adicional.

Em resumo, a reposição hormonal combinada com estrogênio e progesterona apresenta um risco um pouco maior de câncer de mama, mas individualmente muito pequeno. O câncer é uma doença comum no reino animal e que tem tantas causas, na maioria das vezes desconhecidas, que é impossível atribuir um caso de câncer exclusivamente ao uso da reposição hormonal. Alguns casos podem ser evitados ao se procurar manter estilo de vida saudável, evitando obesidade, hipertensão, diabetes e sedentarismo. A amamentação é uma grande protetora contra o câncer de mama.

Quem tem câncer de mama não deve usar hormônios porque eles interferem no tratamento. É importante avaliar se há outras contraindicações, não pratique a automedicação! Procure seu ginecologista. Se você tem história familiar de câncer, é importante calcular o risco de mutações genéticas, o que fará toda a diferença no tratamento.

Por Jordana Bessa, CRM-SP 144.252, ginecologista e mastologista na CLÍNICA HUMANA

Referências
1.  Rossouw JE, Anderson GL, Prentice RL, LaCroix AZ, Kooperberg C, Stefanick ML, Jackson RD, Beresford SA, Howard BV, Johnson KC, Kotchen JM, Ockene J; Writing Group for the Women's Health Initiative Investigators.. Risks and benefits of estrogen plus progestin in healthy postmenopausal women: principal results From the Women's Health Initiative randomized controlled trial. JAMA. 2002 Jul 17;288(3):321-33.
2. Chlebowski RT, WHI Investigators, et al. Estrogen plus progestin and breast cancer incidence and mortality in postmenopausal women. JAMA. 2010 Oct 20;304(15):1684-92.

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