O uso de hormônios femininos é corriqueiro no dia a dia do
ginecologista. A terapia de reposição hormonal é bastante usada para aliviar os
sintomas do climatério, como ondas de calor e secura vaginal.
Alguns tipos de câncer de mama, de ovário e de útero são
dependentes de hormônio feminino. Toda mulher em idade reprodutiva, da primeira
menstruação até a menopausa, produz estes hormônios pelos ovários e pelas
glândulas suprarrenais. Depois da menopausa, continuam sendo produzidos em
pequena quantidade. Os hormônios contidos nas pílulas anticoncepcionais e na
reposição hormonal são de baixa dosagem e não chegam a inibir a produção
endógena da própria mulher.
Ainda assim, é prudente avaliar por meio de pesquisas
científicas se estes hormônios podem aumentar a chance de câncer.
O famoso estudo WHI (Women’s Health Initiative) seguiu mais
de 16 mil mulheres na pós-menopausa, entre 50 e 79 anos. Elas foram sorteadas
para receber reposição hormonal combinada (estrogênio + progesterona) ou
placebo (farinha).
A incidência de câncer de mama foi um pouco maior no grupo
da reposição, mas ainda assim muito discreto. Após seguimento de 11 anos, houve
aumento dos casos do câncer de mama entre quem usou a reposição hormonal (0,38%
vs 0,30%). No entanto, esse aumento reflete apenas 42 casos em 16 mil mulheres.
O risco individual atribuível ao hormônio é muito pequeno.
O estudo revelou ainda algumas outras surpresas negativas como pequeno
aumento de casos de trombose venosa profunda (0,26 vs 0,13%) e embolia pulmonar
(0,16% vs 0,08%); e surpresas positivas como a diminuição de fraturas ósseas por osteoporose (1,47 vs
1,91%).
A reposição hormonal apenas com estrogênio é usada em
mulheres que não tem útero, e não apresenta nenhum risco adicional.
Em resumo, a reposição hormonal combinada com estrogênio e
progesterona apresenta um risco um pouco maior de câncer de mama, mas
individualmente muito pequeno. O câncer é uma doença comum no reino animal e
que tem tantas causas, na maioria das vezes desconhecidas, que é impossível
atribuir um caso de câncer exclusivamente ao uso da reposição hormonal. Alguns
casos podem ser evitados ao se procurar manter estilo de vida saudável,
evitando obesidade, hipertensão, diabetes e sedentarismo. A amamentação é uma grande
protetora contra o câncer de mama.
Quem tem câncer de mama não deve usar hormônios porque eles
interferem no tratamento. É importante avaliar se há outras contraindicações,
não pratique a automedicação! Procure seu ginecologista. Se você tem história
familiar de câncer, é importante calcular o risco de mutações genéticas, o que
fará toda a diferença no tratamento.
Por Jordana Bessa, CRM-SP 144.252, ginecologista e mastologista
na CLÍNICA HUMANA
Referências
1. Rossouw JE,
Anderson GL, Prentice RL, LaCroix AZ, Kooperberg C, Stefanick ML, Jackson RD,
Beresford SA, Howard BV, Johnson KC, Kotchen JM, Ockene J; Writing Group for
the Women's Health Initiative Investigators.. Risks and benefits of estrogen
plus progestin in healthy postmenopausal women: principal results From the
Women's Health Initiative randomized controlled trial. JAMA. 2002 Jul
17;288(3):321-33.
2. Chlebowski RT, WHI Investigators, et al. Estrogen plus
progestin and breast cancer incidence and mortality in postmenopausal women.
JAMA. 2010 Oct 20;304(15):1684-92.
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