Um
grande alarme tomou conta das redes sociais após a publicação de um
estudo dinamarquês associando anticoncepcionais a risco aumentado de
câncer de mama. Mas a informação não é novidade. Desde 1996, já se sabe
que os anticoncepcionais conferem um discreto risco de câncer de mama.
Foi o resultado do levantamento de dados de mais de 150 mil mulheres de
25 países, publicado na revista Lancet.
A grande novidade do estudo publicado no New England Journal of Medicine
de 7 de dezembro de 2017 é a qualidade superior do estudo. A Dinamarca é
um país com medicina centralizada e informatizada, o que permite
avaliar tendências de uma maneira organizada. Utilizando dados
nacionais, incluíram na análise todas as mulheres do país entre 15 e 49
anos de idade, de janeiro de 1995 a dezembro de 2012 (excluíram apenas
aquelas que já tinham tido câncer, trombose ou feito tratamento de
infertilidade). Das 1.8 milhão de mulheres incluídas, aquelas que
alguma vez já utilizaram algum tipo de anticoncepcional
tiveram risco aumentado de câncer de mama.
Quão aumentado foi este risco? Depende do tempo de uso; em média, 20% superior ao risco basal que a mulher já tinha, podendo aumentar 24% se uso por mais de 5 anos e 38% se uso por mais de dez anos.
O risco parece ser aumentado desde o primeiro uso até 5 anos após a interrupção.
No entanto, como este estudo seguiu as pacientes por apenas 11 anos, é
necessário que os pesquisadores atualizem os dados com mais anos de
observação, para confirmar se esta tendência procede.
Suponha,
por exemplo, o risco basal de uma mulher de 35 anos de idade, que tenha
tido um filho aos 28 anos, que tenha feito uma biópsia por doença
benigna da mama, que tenha uma mãe de 62 anos, duas tias maternas
saudáveis e uma avó com câncer de mama aos 80 anos. Neste caso, o risco
basal é calculado em 2.6% para os próximos dez anos e 31.1% lifetime (em
toda a vida). Ao experimentar qualquer anticoncepcional, o risco em dez
anos subirá para 3.1% (20% sobre 2.6%). Ainda não se sabe se o uso de
anticoncepcional pode impactar o risco lifetime.
É interessante ressaltar que o risco foi aumentado para todos os tipos de anticoncepção hormonal, incluindo pílula, anel, injeção, adesivo e até mesmo o DIU hormonal (no Brasil, Mirena®). Não houve um método que pudesse, com segurança estatística, ser preferido aos demais.
O
que fazer, então? Bem, em primeiro lugar, respeitar a verdade dos
fatos. Anticoncepcionais hormonais aumentam o risco de
câncer de mama - pelo menos por cinco anos. Converse com seu mastologista e calcule seu risco basal. Se o seu risco resultante for alto, talvez seja melhor se abster de anticoncepção hormonal de qualquer tipo. Lembre-se que existem métodos não hormonais.
Referências
1.
Mørch LS, Skovlund CW, Hannaford PC, Iversen L, Fielding S, Lidegaard
Ø. Contemporary Hormonal Contraception and the Risk of Breast Cancer. N
Engl J Med, 2017.
2.
Collaborative Group on Hormonal Factors in Breast Cancer. Breast cancer
and hormonal contraceptives: collaborative reanalysis of individual
data on 53 297 women with breast cancer and 100 239 women without breast
cancer from 54 epidemiological studies. Lancet, 1996.
3. Cuzick J. IBIS Breast Cancer Risk Evaluation Tool.
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