O câncer de mama é a principal malignidade entre as mulheres, depois do câncer de pele. Cerca de 1 em cada 8 mulheres irá desenvolver a doença em algum momento da vida.
A mamografia não tem o poder de evitar o surgimento do câncer, mas "previne" que ele se torne muito avançado. Para se ter uma ideia, um tumor deve ter mais de 2,5 a 3 cm para que possa ser palpado. Por outro lado, metade dos tumores detectados por mamografia tem menos de 1 cm. Na prática, isso significa menos quimioterapia, menos radioterapia, cirurgias menores e mais chances de cura. Em mulheres acima dos 40 anos, a realização periódica de mamografia diminui o número de mortes por câncer de mama em aproximadamente 24%.
Apesar de tudo isso, em 2017, eram esperadas 11,5 milhões de mamografias e foram realizadas apenas 2,7 milhões, uma cobertura de 24,1%, bem abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, metade dos casos são diagnosticados em fase avançada, e tanto o número de casos como o número de mortes estão aumentando. Esta não é a realidade de países desenvolvidos, onde a incidência e a mortalidade estão em queda.
A Sociedade Brasileira de Mastologia e o Colégio Brasileiro de Radiologia recomendam que todas as mulheres entre 40 e 74 anos realizem a mamografia anualmente.
A ultrassonografia aumenta a detecção do câncer em 7 casos a cada 1000 mulheres com mamografia normal, que tenham mamas densas. Mamas densas são mamas "fibrosas", pouco gordurosas, o que diminui um pouco a acurácia do exame de mamografia. Os dois exames devem ser realizados e avaliados de forma conjunta.
A outra opção é a ressonância magnética. Em pacientes com mamas densas ou alto risco familiar, a ressonância aumentou a detecção de câncer em 18 casos por 1000 mulheres com mamografia e ultrassonografia normais. Apesar disto, a ressonância tem algumas desvantagens, como tempo prolongado do exame, posicionamento desconfortável e alto custo. Por isso, tem sido reservada como opção em pacientes de alto risco (história familiar, mutação genética, hiperplasia atípica, entre outros).
Nem sempre que o exame é positivo, acusando alguma anormalidade, é certo que a paciente esteja com câncer. Os exames trabalham com uma margem de segurança, dando positivo para qualquer achado, mesmo benigno. Depois de positivo, são necessários mais exames para realmente diferenciar quem tem de quem não tem câncer. Imagine um grupo de 1000 mulheres, sendo que uma delas tenha câncer de mama. É bastante provável que pelo menos 30 delas tenham alguma alteração na mamografia. Algumas terão que fazer ressonância, algumas terão que fazer biópsia, algumas terão que fazer cirurgia - mas apenas uma delas terá um câncer confirmado. As outras 29 mulheres são o que chamamos de "falso positivo": quando o exame acusa alguma anormalidade, mas não se faz um diagnóstico de câncer. Esta situação é bastante comum, ocorrendo em cerca de 3% dos exames de mamografia, 4% dos exames de ultrassom e 14% dos exames de ressonância. Portanto, diante de um exame alterado, não sofra por antecipação.
O exame virá acompanhado de uma nota chamada "BIRADS", do inglês "Breast Image Report and Data System". A nota reflete o grau de suspeição.
BIRADS 1 - exame sem achados
BIRADS 2 - achados certamente benignos
BIRADS 3 - achado com risco de malignidade de até 2%
BIRADS 4a - risco de malignidade de até 10%
BIRADS 4b - risco de malignidade de até 50%
BIRADS 4c - risco de malignidade de até 95%
BIRADS 5 - risco de malignidade acima de 95%
Se você estiver sentindo algum sintoma como nódulo, pele "avermelhada" ou "repuxada", ou saída espontânea de secreção clara ou sanguinolenta em um dos mamilos, procure o mastologista. Se os exames forem negativos, não detectando nenhuma anormalidade, eles têm 99% de chance de estarem certos. Se os sintomas forem suspeitos, a biópsia do local acometido pode ser realizada mesmo se os exames resultarem normais.
* por Jordana Bessa, Mastologista - Clínica Humana. CRM-SP 144.252
Leia mais em
1. Mamografia no Brasil: o pior cenário dos últimos cinco anos.
2. Recomendações do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, da Sociedade Brasileira de Mastologia e da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia para o rastreamento do câncer de mama.
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